Entidade diz não ser contra seleção, mas sim a favor da realização de concurso público
Presidente do sindicato dos professores diz que houve vazamento do gabarito e que prova foi aplicada pelos próprios professores
“É inadmissível que a secretaria, agora que foi impedida de usar a “provinha” na contratação dos temporários, se ache no direito de divulgar dados parciais que só servem para caluniar os professores da rede estadual”, disse ontem a presidente da Apeoesp, o sindicato dos professores do Estado de São Paulo, Maria Izabel Azevedo Noronha. “Ninguém mais acredita nessa prova”, afirmou.
Segundo ela, antes de dar publicidade a resultados de uma prova “contestada de alto a baixo”, a secretaria deveria preocupar-se, isso sim, em corrigir os problemas apontados.
Maria Izabel diz que nunca se opôs à avaliação de conhecimentos. “Sempre defendemos o concurso público como método de contratação por excelência. Mas o que a secretaria quis fazer foi um arremedo disso.”
Entre os problemas citados, constam o suposto vazamento, na véspera da prova, do gabarito dos testes de história (no total foram avaliadas 14 disciplinas distintas)d+ o fato de os aplicadores das provas serem professores da própria rede, o que, segundo a entidade, pode ter comprometido irreversivelmente a segurança do certame (“Onde já se viu colega fiscalizar colega?”)d+ o fato de a logística da prova “ter sido pautada pela bagunça” -ela menciona locais em que os testes começaram antes do horário marcado, e outros em que os examinadores chegaram atrasados, sem contar casos em que as provas chegaram às salas em envelopes sem lacre.
Erros de português
“Por que as provas não foram elaboradas, aplicadas e corrigidas por alguma entidade especializada nesse tipo de concurso público que envolve milhares de candidatos, como a Vunesp e a Fundação Carlos Chagas?”, pergunta a presidente.
A prova de sociologia, por exemplo, apresentou erros de concordância verbal, como na questão 17, que diz: “(…) as diferenças de comportamento entre os grupos é justificado pela antropologia como:” O correto é “…são justificadas…”
Também apareceram problemas de redundância (“o grupo se enxerga a si mesmo”), e de acentuação (“O quê pode levar à integração de um grupo?”).
A divulgação dos resultados da prova, antes de sua derrubada pela Justiça, evidenciou que a cesta de problemas ainda não se tinha esgotado.
A professora Ana Rosa da Rocha Lima, 34, de Bragança Paulista, a 85 km de São Paulo, inscreveu-se para disputar aulas de educação física e de ciências. No dia 17, entretanto, só fez a prova de educação física. “Um supervisor avisou a turma que seria muito difícil pegar alguma coisa em ciências, então desisti. Nem peguei a prova.”
Quando as notas foram divulgadas, surpresa, ela viu que tinha feito 54,4 pontos em ciências e 48 em educação física. “Não pode ser nenhum homônimo, porque a nota veio com nome e RG. Eles erraram mesmo”, disse a professora.
Para a juíza Maria Gabriella Pavlopoulos Spaolonzi, da 13ª Vara de Fazenda Pública de São Paulo, o fim provisório da polêmica sobre a “provinha” teve menos a ver com os argumentos pró ou contra.
Segundo ela escreveu na decisão que enterrou, ao menos por ora, as notas no teste, “não há que se olvidar que a escola pública representa, para milhões de alunos, algo a mais do que as atividades escolares. Alcança, inclusive, o meio da própria alimentação, através das merendas escolares”.
Se não se tomasse agora uma decisão, 5 milhões de alunos teriam de esperar mais tempo ainda para reiniciar as aulas que, pelo calendário escolar, já deveriam começar amanhã. Com a decisão da juíza, as aulas se iniciarão no próximo dia 16.