Entre chapas e tornos – o canto

Nem a manhã cinzenta desse vívido outubro, nem os processos a encaminhar a minha frente, ou os emails a responder  conseguem adiar em mim o desejo de escrever em agradecimento a todos os professores da UFSC pela presença expressiva às urnas, pelo empenho em votar em um dos projetos para a Apufsc e pela preocupação que atinge um grande número de colegas  pelos destinos de nossa entidade.

Aprendi a pensar de modo cosmopolita com a tradição oriental sobre a inefabilidade do conhecimento e da verdade como experiência pessoal. Graças à possiblidade da lida profissional com a lírica, tento expressar-me a partir desse prisma, considerando com Octavio Paz que:

“A poesia é metamorfose, mudança, operação alquímica, e por isso limita-se com a religião. A poesia é entrar no ser.”

Essas palavras de Octavio Paz me inspiram a recordar aqui, não o debate entre as chapas, nem as mensagens funestas ou provocadoras, mas o momento da espera da apuração em que do lado de fora da sala as duas chapas aguardavam o resultado. Dado o adiantado da hora,  a Chapa 1 começa uma cantoria. E nós, irmanados pela música, reunimo-nos independente da cor verde da “Renovação” ou do número da “Valeu a pena” ou dos diferentes projetos para saudar em volta do violão de Quita, o atabaque de Lino, a voz de Fletes, Maristela ou a de Irmgard, no círculo em que seres de uma determinada geração compartilhavam a alegria de cantar. Ali selamos um pacto para a sobrevivência do coletivo de que somos agora meros representantes. Através desse uníssono que a palavra cantada cria reverbera o alcance  de uma sintonia que combina vozes, tons e timbres, no mais híbrido trajeto sonoro… Assim queremos nossa convivência, feita de hibridez, discussão, alegria e, se possível, afeto para vencer as agruras do trabalho.

Esse instante crava uma certeza no desenrolar dos acontecimentos que deu ganho à Chapa 2. A convicção de que a Apufsc é de todos nós!  A diretoria que agora entra, deseja continuar  a fomentar esse ambiente alegre e solidário mesmo entre alguns percalços do  período de disputa eleitoral.

E é com um poema de Vladimir Maiakovski  que pretendo concluir essa primeira mensagem em nome dos membros da Chapa 1,  mesmo que seja para cutucar a uns e outros que insistem em mirar a partir de rótulos gastos em uma faixa estreita e anacrônica da esquerda ou da direita.

Há quem ladre ao poeta

– O que eu queria era ver-te diante de um torno

-O quê versos?Pura bobabem!

Fazem que não ouvem quanto se fala em trabalho.

Talvez

ninguém

como nós

ponha tanto o coração no trabalho.

Eu sou uma fábrica

e se as chaminés me faltam

Talvez

sem chaminés

seja preciso

Ainda mais coragem.

Bem sei

Frases vazias não agradam.

Quando serram madeira

é pra fazer lenha.

E nós

que somos nós senão entalhadores

modelando esta tora que é a cabeça humana?

Vladimir Maiakovski (Trad. Emilio Carrera Guerra)

*Subscrevem os demais integrantes da Chapa 2