No Boletim da última semana publiquei artigo intitulado “Maldita Geni” no qual faço críticas ao presidente da Apufsc por não cumprir uma deliberação de Assembléia e explicar publicamente o seu ato responsabilizando a diretoria do Andes. Isto é, eximindo-se de responsabilidade por meio da imputação de culpa a outro. Questionava, portanto, que o presidente não tinha o direito de agir diferentemente das definições emanadas pelas instâncias de deliberação. O novo regimento da Apufsc é bastante claro ao definir que a diretoria é um órgão executivo e não deliberativo. Pensava que a crítica pública, no boletim, seria suficiente para que o professor Armando Lisboa refletisse sobre sua prática equivocada, revisando o seu comportamento. No entanto, este nos surpreende com aparição no programa eleitoral da candidata Ângela Albino, do PCdoB, ao qual compareceu para levar apoio àquela candidatura, sendo apresentado, na telinha, como presidente da Apufsc.
O professor Armando Lisboa não apenas não refletiu sobre seu comportamento desrespeitoso em relação a uma assembléia, como ultrapassou os limites da autonomia do sindicato. Pessoalmente ele tem o direito de apoiar quem ele quiser, mas enquanto presidente da Apufsc ele fala por uma organização que é coletiva, ele fala por todos nós. O ocorrido não é um fato menor e que mereça que passemos a mão na cabeça do professor Armando, perdoando-o, como se ele não tivesse noção de que não poderia ter feito isso. Seu gesto é inaceitável.
Porém, gostaria de tratar do problema sob outro nível de preocupação, que não apenas o do comportamento individual, mas o de sua relação com o coletivo. Sob o meu ponto de vista, as atitudes que critico no presidente da Apufsc são apenas sintomas de uma doença e não a doença em si. Como sabemos, se uma doença é tratada apenas relativamente aos sintomas, a cura não ocorre e a doença pode progredir. Acontece que há uma doença na universidade que é coletiva, que afeta todos nós que nela trabalhamos, cujos sintomas manifestam-se em indivíduos. Estes podem tomar remédios, procurar médicos e psicanalistas. Mas, como tratar alguma coisa que está afetando todos nós, quando as relações no interior dos departamentos estão esgarçadas, quando nosso ambiente de trabalho é doentio? Certamente tratamento não se dará num divã, mesmo porque não existe um tão grande em que caiba mais de mil professores. O mal que nos abala, que nos faz ficar doentes só poderá ser enfrentado por meio de práticas insurgentes em relação às causas e não aos sintomas. A insurgência é uma ação coletiva e não individual e, por isso, o sindicato é importante.
Se por um lado, o que ocorre na Apufsc é expressão do que ocorre na Universidade, a primeira não pode simplesmente se adaptar à segunda. Ao contrário, o sindicato deve ser o espaço no qual nos organizamos para enfrentarmos os problemas do nosso ambiente de trabalho, uma vez que, creio, temos o direito a um ambiente saudável.
É curioso o fato de que, em toda a história da Apufsc, jamais houve um presidente que tivesse tanto apoio como obteve o professor Armando. Em dado momento da gestão, ele recebeu um abaixo-assinado de apoio com uma quantidade de assinaturas que, se não me engano, era superior à quantidade de votos que a chapa da qual fazia parte recebera na eleição. Poderíamos analisar seu comportamento como algo assim: sente-se com tanto respaldo que considera que pode fazer o que quer, sem respeitar instâncias deliberativas: apoiar candidatos, contratar advogados antes de sua aprovação pela assembléia, deixar com o irmão cheques da Apufsc por ele assinados durante período de viagem.
Há, no meu entender que se observar alguns aspectos desse apoio. Na semana anterior, no boletim 653, há um artigo assinado por um grupo de colegas intitulado “pela renovação da Apufsc”, que se dedica a apoiar o atual presidente e, seguindo uma prática mais ou menos comum de um movimento chamado “nova Apufsc”, separa o presidente (o bem, ou o novo) do restante da diretoria (o mal, ou o velho).
No artigo encontramos: “Um contexto com tais ingredientes exigia um corpo dirigente unificado em torno de sua liderança, afinidade em procedimentos, solidário em suas deliberações”. Não fica claro se os colegas se referem a deliberações do “corpo dirigente” ou de “sua liderança”. Na seqüência lê-se: “Por razões que caberia melhor investigar, foi tudo o que não tivemos. Pelo contrário, o que vimos foi uma conflagração interna, dirigentes em aberta insubordinação aos parâmetros mínimos de funcionalidade organizacional, de convivência e civilidade”. Sugerem, então, que o restante da diretoria é insubordinado. Ora, é insubordinado em relação a quem? E, como o que interessa, aos autores, são os adjetivos, a mera construção de imagens, o texto assim continua: “É sempre muito difícil identificar a origem, as motivações e interesses de tais entropias, e mais ainda isolar responsabilidades”. Sugere, na minha percepção, que existe um apelo à colocação da “liderança” acima das normas, das regras. Isto é, ele pode fazer o que quiser e aqueles que manifestarem oposição aos seus atos são insubordinados, curiosamente, em relação “aos parâmetros mínimos de funcionalidade organizacional, de convivência e civilidade”.
Tudo isso me sugere que o comportamento do atual presidente, desrespeitoso em relação à democracia e à autonomia da Apufsc, foi alimentado por seus apoiadores, mas não quero acreditar que seja o desejo de todos, o que seria um sintoma a demonstrar que a doença que nos acomete coletivamente seria muito mais séria. Penso que ela poderá se agravar caso a Apufsc venha a ser aparelhada pela Reitoria. Espero que não seja esta a intenção da atual administração em relação às próximas eleições da Apufsc e do DCE, ambas convocadas para outubro.