Estudei em Porto Alegre, na UFRGS, numa Escola de Engenharia limitada ao ensino de graduação. Meus professores eram de tempo parcial, com atuação profissional externa. Naquele modelo universitário ocorria um natural relacionamento com a sociedade externa. No Brasil das décadas de 60 e 70 do século passado, a universidade validava-se perfeitamente com a graduação. O diploma universitário assegurava boas alternativas de ocupação profissional e todos ficavam bastante satisfeitos.
O atual modelo da UFSC caracteriza-se pela profissionalização dos docentes, com dedicação exclusiva, sendo a carreira baseada em titulações acadêmicas. Essa nova Universidade necessita de mecanismos apropriados para uma permanente interação com a realidade externa. A constituição de 1988 impôs a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão que tem sido amplamente aceita e que precisa ser respeitada.
A correta escolha dos temas de pesquisa torna-se vital para assegurar uma alta eficácia institucional nesse modelo universitário. Sem esta diretriz, correm-se sérios riscos de danosos desacoplamentos. Se a pesquisa for alienada, como bem coloca o professor Silvio Botomé, o ensino poderá se tornar alienante. Lembro que o professor Cristovam Buarque, atual senador, apregoava que apenas os pesquisadores que atuassem nas fronteiras do conhecimento mundial poderiam ter a liberdade de trabalhar em temas alheios à realidade brasileira.
A universidade estatal não é necessariamente pública. A gratuidade não é atributo suficiente. O cerne da caracterização como instituição realmente pública está nos conhecimentos gerados e repassados aos alunos e à sociedade. Tais conhecimentos devem estar devidamente contextualizados dentro da realidade nacional. Quando a graduação não mais oferece garantias de emprego, a plena aceitação social da nova universidade apóia-se bastante numa extensão de mão-dupla, bem conduzida.
Num mundo em acelerada transformação, as imensas potencialidade da UFSC neste século XXI precisam ser mais bem aproveitadas pelos catarinenses e pelos brasileiros. A pós-graduação alimenta a pesquisa através de dissertações e teses. A internet, com o formidável portal da Capes e os excelentes mecanismos de busca, abre amplas portas em todos os campos de conhecimento. A UFSC tem condições de abordar os problemas concretos da sociedade utilizando várias óticas. Uma visão holística, baseada na interdisciplinaridade, pode oferecer excelentes contribuições para construir o Brasil que os brasileiros almejam.
Num ambiente de rápida e abrangente geração de conhecimentos científicos, as organizações produtivas têm necessidade de inovar continuamente. Novos bens e serviços de bom conteúdo tecnológico precisam ser oferecidos, internamente e para exportações. A agregação de valor permite alcançar níveis de competitividade que assegurem uma sobrevivência bem sucedida em âmbito mundial. Este é o caso, por exemplo, da Petrobrás cujo valor de mercado aproxima-se dos 300 bilhões de dólares, contando com o decisivo apoio do sistema universitário brasileiro.
Nossos alunos de graduação e pós-graduação só terão ocupações bem remuneradas se a UFSC estiver bem sintonizada com as reais necessidades e interesses da sociedade que a sustenta. Em 2007, mais de 30 mil mestres e quase 10 mil doutores concluíram seus cursos no Brasil. Se os currículos e os temas de dissertação e tese não forem relevantes para a realidade dos sistemas produtivos, estaremos desperdiçando recursos preciosos e a universidade perderá credibilidade. A contribuição de alunos e ex-alunos da UFSC no desenvolvimento do projeto da urna eletrônica, realizado na Fundação Certi, foi um bom exemplo de escolha de temas de pesquisa.
Um significativo e dispendioso esforço da comunidade universitária está permitindo que o Brasil alcance o patamar de 2% da produção científica mundial. Pouco vai adiantar este êxito que estamos comemorando, se a população brasileira não se sentir a real beneficiária destes conhecimentos em termos de uma melhor qualidade de vida, expressa em mais e melhores empregos, bons produtos com preços acessíveis e em quantidade suficiente para suprir a demanda sem provocar inflação.
O sistema universitário brasileiro, como já vem ocorrendo com as universidades paulistas, precisa assumir uma postura mais pública, mais pró-ativa e mais responsável na concepção e implementação de um modelo genuinamente brasileiro de desenvolvimento sustentado.
O reposicionamento político do Brasil no cenário mundial, ao lado de nações como Índia, China, Rússia e África do Sul, abre excelentes perspectivas de realce das atividades universitárias, especialmente no contexto de modernas tecnologias, como a convergência digital da informática com as comunicações. O efetivo envolvimento da comunidade universitária e dos ex-alunos, agregando conhecimentos apropriados, permitirá que o Brasil possa aproveitar muito bem a excepcional oportunidade histórica que estamos vivenciando.