Por que votei “com o CTC”?

Eu me lembro da primeira vez que escrevi sobre a crise de legitimidade do sindicato. Foi em 1998. Era uma crítica ao fato de que, em uma assembléia com meia-dúzia de gatos pingados, decidiu-se enviar nada menos que dez representantes da Apufsc a um Congresso da Andes.

Desde então, assinei muitos outros artigos sobre assuntos afins. O sentido geral desses textos era claro: o sindicalismo, sob a fantasia de vanguarda revolucionária, não fazia mais do que conduzir sofríveis campanhas salariais, alavancar carreiras de carreiristas e abrigar – à semelhança do que freqüentemente sucede à Administração Central – aqueles que perderam o interesse pela sala de aula e pela pesquisa. De resto, eu procurava indicar que, funcionando desse modo, a entidade se fechava sobre si mesma, afastando-se perigosamente da assim chamada base.

A rigor, não me limitei a refletir continuamente sobre a vida sindical. Ao lado de alguns colegas valorosos, tentei intervir diretamente sobre o sindicato, participando, como Diretor de Imprensa, da gestão da entidade.

 Foi uma experiência extraordinária. O Boletim – conta o Vlad, funcionário responsável sua distribuição – era avidamente arrebatado de suas mãos por professores antes que ele conseguisse chegar aos escaninhos. E isso simplesmente porque, em vez de fingir projetar a revolução proletária, o jornal abordava sistematicamente o cotidiano da UFSC (as edições mais populares foram certamente aquelas que denunciaram as irregularidades na PG em Engenharia de Produção).

 Pena que essa primavera sindical tenha durado pouco. Muito cedo – com a estranha anuência (ou, no mínino, a omissão) da maioria dos professores –, os colegas de Diretoria ainda interessados em manter a velha linha de atuação conseguiram impor a nossa demissão coletiva.

 De minha parte, voltei a escrever artigos.

 Em face da polêmica agora instalada a respeito do futuro do sindicato, minha história pessoal me obriga a votar nas propostas do CR. Foi que fiz. 

 Mas o fiz sem otimismo. Assumi o gesto como quem cumpre um dever triste. Dez anos depois de terem surgido os primeiros sinais incontestáveis da crise sindical, oito anos depois de a experiência de mudança na Diretoria ter apodrecido a céu aberto, sem que quase ninguém se solidarizasse com os que, àquela altura, queriam devolver o sindicato aos professores, a proposição de que a Apufsc tem que mudar não soa propriamente falsa. Soa extemporânea. Um pouco à maneira do Messias de Kafka, ela chega “um dia após seu advento”, “quando não é mais necessária”.

A meu juízo, fomos longe demais na destruição do sindicato ou na omissão face a esse fato. Por isso, entre mim e o pessimismo absoluto, há uma mínima distância. Ela tem o tamanho de uma célebre frase de Mallarmé: “um lance de dados nunca exclui o azar”.