A assembléia do dia 9 de julho marca o início de um importante processo de mudanças na Apufsc, que deverá ter continuidade com uma segunda assembléia em agosto para a deliberação e aprovação de um novo regimento e cuja espinha dorsal é a vascularização do processo de decisões por intermédio do seu Conselho de Representantes (CR).
Ainda que com mais de 30 anos na Apufsc, o modelo atual, baseado sobre assembléias, mostra-se esgotado.
A assembléia deixou já há algum tempo de ser um fórum de pessoas que se conhecem e que são conhecidas pelos seus históricos de lutas no sindicato, como costumava ser nos anos 80. Com o fim da ditadura militar, a motivação gradativamente deixou de ser a mesma. Os “históricos” da Apufsc precisaram continuar o seu processo de formação, assumir funções na administração da Universidade, tocar os seus projetos de pesquisa e cuidarem dos seus laboratórios e grupos, ao mesmo tempo em que a nova geração de professores que ingressava na UFSC não os renovava nas lides sindicais.
E as assembléias ficaram vazias e o sindicato acabou como “aparelho” nas mãos de “sindicalistas”, ideologicamente de esquerda e que, presentemente, dele se utilizam mais para os seus projetos políticos individuais do que para o interesse coletivo dos associados.
E a Andes acabou no Conlutas.
A assembléia de 9 de julho é uma reação dos associados a este processo de distanciamento.
Os associados querem saber o que é feito com suas contribuições, por que os seus salários rivalizam com o de funcionários federais com nível médio e por que eles não têm aquilo que precisam para o exercício de suas funções de ensino e pesquisa.
Os associados querem retomar o controle de sua entidade.
Ainda que o nosso movimento pela refundação da Apufsc esteja sendo bem aceito pela grande maioria dos professores e por boa parte de nossos históricos, aceitação esta demonstrada pelas mais de 600 assinaturas de apoio ao manifesto do Prof. Armando Lisboa, em maio de 2007 e pelo comparecimento de 625 docentes às urnas em nossa assembléia que seguiu a de 11 de setembro de 2007, quando nos decidimos contrários ao indicativo de greve, a nossa proposta está suscitando algumas dúvidas entre os históricos, fomentadas por nossos oponentes.
As principais dúvidas, que induziram o retorno de alguns de nossos históricos ao espaço da assembléia, em 9 de julho são: “Não estaremos tentando estender ao sindicato a estrutura de poder da UFSC?…”, “Não será isso, o congelamento político do sindicato?…”, “Como conceber um sindicato sem assembléia?…Sem um fórum de discussão, onde se encontram as pessoas que lutam pela causa coletiva?…”.
Em meu artigo “O Grande Nó” publicado no Boletim 639 procurei tratar das duas primeiras questões. No presente, vou me deter sobre a última.
Morre a assembléia?…
Idealmente, uma assembléia em uma associação-sindicato com 2600 associados é um evento para o encontro das pessoas que militam pela causa coletiva.
Esse evento, dentro desta concepção, deixou de existir…há muito tempo.
A assembléia continua a ser um espaço importante em pequenas universidades. Na Apufsc os nossos históricos cansaram de carregar a causa coletiva de 2600 pessoas na “canga” e foram tratar de suas vidas. Sobraram os sindicalistas, que construiram o seu projeto de vida em torno dela e que conduzem o sindicato de acordo com as suas visões e que fazem o que podem para manter o sindicato em suas mãos.
E a assembléia virou o espaço para o encontro dos sindicalistas.
Mas na assembléia de 9 de julho estavam lá alguns históricos “não-sindicalistas” preocupados com a perda desse espaço de discussão…de encontro…de reunião.
Sou um dos fundadores, não da Apufsc, fundada pelo Hamilton Schaeffer para ser uma associação recreativa, mas da Acep (Associação de Cultura Estudos e Pesquisas) em 1975 (ou 1976, não me lembro). Poucas pessoas sabem o que foi a Acep, mas acho que basta dizer que era um espaço onde as pessoas se encontravam para resgatarem a sua dignidade humana, que a ditadura militar lhes tirava. Foi a Acep que permitiu ao Prof. Maciel transformar a Apufsc de associação recreativa ao que hoje ela é: uma associação-sindicato.
Em 1977 saí para o meu doutorado e perdi uma parte desta história, mas antes disso indiquei, para dela fazer parte, o Raul Guenther, um ex-aluno meu, amante da música e da honestidade intelectual e que foi de enorme importância para todos nós, como pessoas. Depois disso, só soube agora, era a vez do Armando ir para a Acep, sob a indicação do Célio Espíndola, também, um dos fundadores.
Mas a Acep precisa de um livro e não de um artigo.
A Acep foi um espaço importante, assim como a Assembléia também foi.
A Acep não existe mais…perdeu a sua função.
A assembléia também.
As questões que se colocam são:
“Como recuperar um espaço de discussão para que ali se discutam os problemas coletivos dos professores da UFSC?…”
“Como fazer com que as idéias que se discutem neste espaço tenham fluidez e capilaridade entre os professores?…”
“Como fazer com que não se perca a função política de nossa associação-sindicato?…”
Em minha opinião, isso passa por um Conselho de Representantes forte e como instância deliberativa de nosso sindicato.
Um espaço onde 60 representantes, e não 60 indivíduos, vão discutir a causa coletiva.
Como eram (ou que para isso foram criadas)…as assembléias.
Um espaço para o encontro e discussão entre pessoas preocupadas com os problemas coletivos.
Um espaço onde cada vaga seja disputada “a tapas” pelos professores.
Mas, também, onde só tem vaga quem tem condições de representar os seus colegas de departamento.
Onde perde a vaga quem não faz isso.
Morre a assembléia?…