Na manhã de sábado, 14 de junho, fui honrado com telefonema do Presidente da Apufsc, o qual manifestou sua preocupação frente àquilo que ele compreendia ser um atentado (ou algo que o valha) contra o trabalho em defesa da URP, ou seja, a divulgação de um artigo sobre o assunto na lista de e-mails do Sindicato. Concluiu com forte apelo para que o ajudasse a reparar o problema junto à Diretoria, tendo em vista reconhecer em mim uma pessoa “ponderada”.
Passado o calor das fortes emoções, considerando ser útil o reconhecimento deste meu atributo, que na verdade se define melhor como estratégia de sobrevivência aperfeiçoada sobre a corda bamba, resolvi ponderar em voz alta sobre os últimos acontecimentos no contexto da URP. Pois, poucos dias após, nossa Assembléia deixou a categoria refém de uma situação que a imensa maioria de nosso quadro de associados não criou, nem conhecia. Antes da Assembléia ocorrer, porém, já haviam sido determinadas pelo Presidente, sem o pleno conhecimento da Diretoria, mudanças substanciais nas decisões tomadas coletivamente em diferentes instâncias relacionadas à condução do processo, envolvendo retirada de recurso e contratação de nova assessoria jurídica (com pagamento imediato de 50 mil reais mais percentuais sobre eventual êxito).
Então, para início de conversa, pondero, por dever de ofício acadêmico, ser preciso assumir a responsabilidade e o direito à dúvida, algo inerente à incompletude e provisoriedade do conhecimento científico, até para não praticarmos dogmatismo e fé irracional, agindo mais como torcedores fanáticos e inconseqüentes do que servidores públicos e cientistas.
Assim, duvidei das teses de nossa assessoria jurídica no caso URP, mas também das chamadas novas descobertas do Presidente da Apufsc e de sua “rede sócio-técnica” (essa é a forma à qual ele se refere). Fui mais longe, duvidei de minha própria capacidade em formar juízo a respeito de questão complexa que envolve duas décadas de histórias bem, mal e parcialmente contadas, envidando esforços em reunir coletivos para organizar conjuntamente seminários, escrever documentos, apoiar reuniões, fazer manifestações públicas, constituir comissões na Diretoria, no Conselho de Representantes e na Assembléia Geral. Então, pondero ser importante a máxima cautela em questão delicada que atinge a todos de diferentes formas, uns porque perderam a URP, outros porque nunca a tiveram.
A segunda ponderação é no sentido de refletir sobre afirmações de que a Diretoria, a não ser o seu Presidente, não se empenhou, desistiu ou foi contra a recuperação da URP. Em realidade, somos e atuamos explicitamente a favor dela. Contudo, não me incomodo em ser rotulado como alguém que é do contra… Me orgulho muito de ter sido contrário a tudo aquilo que nos dificulte explicações públicas nessa luta. Nesse sentido, fui por mais de uma vez enfático em dizer que reprovava reuniões fechadas com a Reitoriad+ que tinha repulsa pela inserção paga de “assessores parlamentares” (ou outros eufemismos possíveis), pois esta categoria tem sido fotografada frequentemente com as mãos algemadasd+ que não tenho interesse em obter apoio de redes e de sociedades secretasd+ que concordo com a responsabilização transparente do Executivo, Legislativo e Judiciário, mas que discordo de acordos político-partidários que privilegiem circunstancialmente nossa categoria e nos coloquem, a seguir, em relação de dependência e atrelamento. Enfim, é preciso ponderar que, apesar da dramaticidade do quadro financeiro de nossos professores, mesmo frente a esta aridez econômica, ainda é possível prosseguirmos, como sujeitos coletivos, com alguma dignidade.
Tendo em conta o forte empenho externo para implantar intrigas no seio da Diretoria da Apufsc, com vistas a tornar o Sindicato funcional aos interesses por vezes inconfessáveis de segmentos já privilegiados da Universidade, é preciso ficar muito atento aos movimentos que, até de forma inocente e aparentemente repletos de boas intenções, criam situações insuportáveis que, a bem da verdade, nós docentes da UFSC não merecemos. Dito isto, pondero haver exageros de todos os lados, inclusive de minha parte, tanto no que se refere às críticas feitas quanto no referente à reação a elas. Porém, uma vez dissipada a nuvem de fumaça, é preciso retornar à raiz dos problemas e encará-los de frente.
Em todo imbróglio que nos metemos no caso URP nesta semana, vou aceitar como justificativa dada pelo Presidente da Apufsc a sua falta de habilidade para lidar com o problema e com a própria Diretoria nesse contexto. No entanto, reforço aqui, sinceramente, minha sensação de ter me tornado refém de situação que não criei e a apreensão quanto ao fato de que, como associado e diretor da Apufsc, fui impedido de tomar conhecimento a respeito em tempo suficiente para agir com responsabilidade, e isto não é correto, pois retirou meu direito a ter dúvida. Não é correto que as comissões designadas no interior da Diretoria, no Conselho de Representantes e na Assembléia, desconhecessem aquilo que já vinha sendo decidido e executado em outras esferas, pois isto lhes retirou o direito à dúvida. Enfim, sem dar maiores extensões a este caso, para que se tenha idéia da gravidade do problema, é preciso registrar aqui a renúncia feita por dois colegas integrantes da Comissão da URP no interior do Conselho de Representantes, tendo em vista não verem mais sentido em suas permanências e a declarada sensação de um deles, de ser “o último a saber”.
Para concluir, por indicação da Diretoria, o impasse da URP foi encaminhado para a Assembléia já mencionada, pois suas implicações superavam em muito a capacidade de autonomia de nossa instância, comprometendo inclusive decisões de Assembléia anterior. Isso foi feito e a plenária, por ampla maioria, em sessão das mais tumultuadas em auditório lotado no CTC, referendou as decisões já tomadas e implementadas, sendo contabilizadas também algumas manifestações contrárias e abstenções (com declarações de voto). E tal como num jogo de futebol entre Brasil e Argentina, “torcedores” de visão formada aplaudiam e vaiavam entusiasticamente, sem se darem conta, imagino eu, do quanto ainda precisaria ser esclarecido e o quanto desperdiçavam, pela visão pré-concebida, urgência e desespero, os seus direitos a terem dúvida!