Sou professor Associado I da UFSC há 28 anos, tenho três filhos já formados, maravilhosos, ainda sem “autonomia financeira” porque estudaram muito e são extremamente corretos e inteligentes. Estou atualmente morando com a minha família em um apartamento (financiado) com dois dormitórios de 83 m2, a 25 km da UFSC, porque tive que sair da minha casa financiada, de 180 m2 a 2 km da UFSC, para compatibilizar o “salário de professor” com os “gastos familiares”, após o corte da URP e o desconto na folha dos valores recebidos “indevidamente” nos meses de janeiro e fevereiro de 2008 referentes à famigerada URP.
Isso foi o resultado final de “muita discussão sindical” e pouca “ação judicial” tanto do sindicato que deveria me defender , como da “antiga administração central da UFSC” que não fez absolutamente nada para impedir esta injustiça contra os seus representados junto à AGU. Coisas corriqueiras na carreira de um professor.
O “famigerado corte da URP” reduziu em mais de 42% a entrada de capital na minha família, já que minha esposa também é professora e também perdeu a URP. Portanto, estou economicamente “ferrado” após 28 anos como professor universitário, com doutorado, pós-doutorado no exterior, mais de dez trabalhos publicados em revistas indexadas “qualis A” nacional e alguns trabalhos “qualis A” internacional, nos últimos cinco anos, conforme demonstra a “Plataforma Lattes” do CNPq. Isto deve dar uma tese de doutorado, para qualquer pós-graduando de economia com o título: “Como sobreviver em um sistema econômico que diminui o seu salário conforme você sobe na carreira”… Vai receber nota 10 com louvor, ser publicada em revista internacional de “alto impacto” na área de economia.
Além disso, cometo a “insanidade” de estar participando de um “Programa de Pós-Graduação”, com pelo menos três orientados e/ou co-orientados (mestrado e doutorado) que estão para concluir seus projetos de pesquisa até 2010. Tenho também “aulas na graduação” e outras atividades complementares, tais como, participar de bancas, análises de teses e auxílio a colegas pesquisadores em projetos. Para não prejudicar o “Programa de Pós-Graduação” tenho a necessidade de produzir pelo menos um ou dois trabalhos científicos “Qualis A” a cada ano, participar do “programa” dando aulas, orientando mestrandos e/ou doutorandos, apresentando alguns (+ de quatro) trabalhos em congressos, orientando “alunos de graduação em iniciação científica”, conseguindo “dinheiro para manter o laboratório funcionando”, ter enfim uma “linha de pesquisa sólida e produtiva”.
Atualmente acabo de solicitar uma “bolsa de produtividade em pesquisa” (PQ) para o CNPq, pela qual pretendo “ganhar” a fantástica quantia de R$ 980,00 por mês. Isto significaria para mim, um “enorme aumento salarial” já que o meu salário de maio foi de R$ 1.541,24 fora as “benditas gratificações”, o que me coloca exatamente com o mesmo salário de qualquer trabalhador braçal, com 1o grau completo.
Somente vou receber a quantia acima, no caso da bolsa ser aprovada pelos “meus pares”, doutores como eu e com melhor produtividade que a minha. Isto só vai ocorrer após um rigoroso exame do meu Curriculum vitae e de verificar a “disponibilidade de recursos” dentro da minha “área de atuação”, além de analisar minuciosamente o “mérito científico” do projeto apresentado. Portanto, sigo rigorosamente as “regras estabelecidas”.
Tudo isto, não é nenhuma novidade para a maioria dos meus colegas professores da UFSC, que devem estar na mesma “situação econômica” em que me encontro atualmente, ou talvez em situação bem pior que minha.
A novidade mesmo, é que tenho a enorme vontade de mandar “tudo para P.Q.P.” e me tornar um simples “Pescador de Tainha” em uma colônia de pescadores desta ilha que amo tanto. Com base nesta “brilhante idéia” meu cérebro muito bem treinado sofreu uma “diarréia mental” e bolou a “bolsa P.Q.P. do CNPq”.
Tal modalidade de bolsa, seria concedida para todo o pesquisador que como eu e muitos outros deste país, trabalharam mais de 28 anos em uma universidade federal, demonstram interesse em “mandar o Sistema de Educação Superior deste país para P.Q.P.” com base nos decretos e portarias do MEC e dos outros órgãos superiores do país, que deixaram o referido professor mais de 15 anos sem aumento salarial, sem aumento nos valores das “ bolsas de pesquisa e de produtividade” e sem aumento de insumos para as pesquisas no país. Depois de ouvirem por todos estes anos dos políticos que ocuparam o poder neste país que educação é prioridade,
Para não cometer injustiça, tal bolsa deveria ser concedida apenas para aqueles professores que tivessem seu “salário cortado” por decretos governamentais de governantes “semi-alfabetizados” e com uma “larga experiência em atividade sindical”. Isto evitaria ofender 0,0001 % dos políticos atuais.
Os critérios de inclusão deveriam ser analisados por uma “Câmara no CNPq” montada por profissionais gabaritados, com larga experiência em pesquisa científica no país e no exterior, com diversos trabalhos científicos publicados e que estão economicamente ferrados, devendo mais de um ano de salário para bancos oficiais deste meu amado Brasil. Isto é muito fácil de encontrar em qualquer universidade pública brasileira.
Outro critério importante é levar em consideração e edição de “medidas provisórias” assinadas pelo presidente da República que concedem “aumento salarial de mais de 100% aos professores universitários”, mas não podem ser efetivadas logo após a sua assinatura pelo referido presidente, porque ferem a Constituição Federal. Isso fica patente se verificarmos a última medida provisória assinada pelo presidente de plantão. Deve-se tomar o “extremo cuidado” nesta análise, já que neste ano da graça de Deus de 2008, o governo federal anunciou em todos os canais de televisão que concedeu um aumento salarial aos professores das universidades federais, desde março, mas o tal aumento não veio e nem vai aparecer no salário que os mesmos receberão em junho de 2008. Ou seja, a lei não é cumprida neste caso. Portanto, somente aqueles professores que foram tratados como verdadeiros “idiotas” pelo governo federal, tem direito a esta famigerada bolsa P.Q.P.
Outro dado fundamental é o valor da bolsa PQP, que deve ser igual ao “salário mínimo”, mais ou menos a mesma coisa que recebe quem nunca contribuiu para a Previdência. O mais importante é que ela será concedida desde que existam verbas públicas destinadas à educação em quantidade suficiente. Tal dado é fundamental para não provocar nenhum “colapso na economia” deste meu Brasil, afinal a educação é prioridade e os bancos oficiais e banqueiros particulares não podem e não vão realizar financiamento sem que exista alguma garantia de retorno financeiro, mudar isto pode causar um verdadeiro “trauma” no sistema financeiro deste país. Vivas ao Sistema de Mercado…
Portanto, com a criação desta “bolsa PQP” estou contribuindo em muito com a atual política estabelecida pelo atual governo federal que concede bolsas e auxílios financeiros a todas as classes sociais “menos favorecidas”, como para ONGs, sindicatos criados por políticos, desempregados, Movimento dos Sem-terra, Movimento dos Sem-Iates-de luxo, sub-espantadores de urubus, etc…
Para confirmar isto, basta ler a “Folha de São Paulo” editado dia 31/05 e ter uma pequena idéia dos tipos de bolsas que este país concede e quanto sai dos cofres públicos para elas.
O mais importante nesta nova modalidade de bolsa, é que se o agraciado pela Bolsa PQP do CNPq, tiver uma “recaída” e voltar a trabalhar sério, produzindo pesquisa de qualidade, orientando alunos, dando aulas, etc… a bolsa deve ser imediatamente SUSPENSA e o “maldito professor” dever devolver integralmente aos cofres públicos todo o valor recebido indevidamente, com juros e correção monetária, afinal este é um país sério e não admite brincadeiras com algo tão importante como a educação superior, em um país cujo “índice de investimento foi considerado seguro pelas principais agencias financeiras internacionais”.
Todos nós sabemos, e as “agências financeiras” também sabem que é apenas na Educação Superior de um país que podemos formar cidadãos com capacidade crítica.
Infelizmente ainda tem gente dentro das próprias universidades brasileiras que acredita em políticos e pior ainda, se torna “politicamente correto” candidatando-se a uma “boquinha” dentro do sistema implantado. Vide deputados e senadores com “título superior” e seus pequenos salários de mais de R$ 20.000,00, fora as “benditas gratificações”.
Outro dia, um colega da pós-graduação me perguntou o que eu gostaria que fosse escrito na lápide do meu túmulo, acho que a palavra mais adequada para um professor universitário brasileiro na atual conjuntura é: palhaço.
Esse é um país peculiar, se você é uma pessoa medíocre e que nunca teve a vontade de aprender nada na vida além de política, tens grande possibilidade de ser tornar um presidente, vide Lula lá. Mas, se você estudar muito, trabalhar sério, não se meter em política e for honesto com seus princípios, você corre o risco de se tornar um professor universitário, aí meu amigo, estás irremediavelmente condenado a ser um palhaço.
*Nascido para pescar, obrigado a trabalhar… ARRGH!!!!