Judas e as trinta moedas

Nobres “novos e velhos desurpados” colegas, este retorno às atividades está bem mais tumultuado e mais difícil do que em anos posteriores. Ainda nem bem tivemos tempo de respirar e soltar a primeira exclamação, de ministrar a primeira aulad+ eis que surge uma bombástica notícia de que nosso salário, mísero e carcomido pelas traças, sofreu um aumento negativo. Aumento negativo pode ser possível, na matemática, se tomarmos o módulo deste número. Em tal caso, não importa o sinal, se negativo ou positivo. Em toda história política deste paísd+ ou plagiando alguém muito famoso, nunca antes na história deste país, se viu tamanha perseguição aos professores universitários. Parece-me uma mágoa oculta, uma raiva incontidad+ uma represália fundamentada na ignorância e no pouco caso que se faz destes profissionais nos dias atuais. É o governo Lulla cumprindo suas promessas, cumprindo metasd+ erradicando a fome deste Paísd+ ás custas de nossos minguados salários. E o mais traumático, e inexplicável, no meu modesto entendimentod+ em nome de uma legalidade injustificável e tremendamente injusta. Se a situação de fato e de direitod+ com sustentação jurídica e tudo, não vale mais, então está na hora de cerrar as portas desta hipocrisia toda e partirmos para outro tipo de retaliação. Maquiavélico – Me faltam palavras, ou melhor, sobram-me palavras, aos borbotões, mas que não cabem neste minúsculo texto, em respeito aos poucos que tiverem o trabalho de lê-lo. 

O primeiro petardo nos atinge em cheiod+ ô mira certeira. Põe-nos de joelhos, no chão, ficamos anestesiados, sem reação, inertes, poucos se dão conta da gravidade dos ferimentos. Nem bem refeitos do primeiro impacto, outra bombad+ bem mais calibrada e carregada nos atinge novamente. Pronto. Estamos liquidados. E o mais cruel e insanod+ todos estes petardos são assinados. Gestão atuald+ com reitor, pró-reitores, chefes de gabinetes, chefes de seções, assessores, etc. Francamente, eu, em vosso “sagrado” lugar, teria colocado meu cargo a disposiçãod+ preferiria a exoneração, ser arrastado para a mais profunda e escura masmorra, trancafiado a pão e água, ter o destino do gigante Prometeu. Mas nunca colocaria meu nome em tal petardo. Não gostaria de passar às páginas negras da história da Universidade Federal de Santa Catarina: “Como a gestão na qual legitimou e emprestou seus nomes para que colegas fossem violentamente agredidos em seu sagrado direito, o qual sejad+ a manutenção de seus parcos salários como forma de manter o sustento de suas famílias”. Senhores, francamente, vocês perderam uma chance de ourod+ de passar para a posteridade como um grupo de luta, um grupo realmente voltado aos interesses daqueles que os elegeram. Seria exemplo a ser seguido por todas as categorias em luta, seria o santo Graal da história das Universidades Públicas e Federais. A chance de ouro de se fazer justiça, de se tentar estender a URP para todos os colegas. Porém, num arroubo de submissão, numa entrega total ao presente sistema, num peleguismo sem precedentesd+ visto que nossa luta é aparada judicialmente, a atual gestão compactua com tal ato abominável A história saberá distinguir aqueles que lutaram daqueles que se entregaramd+ se renderam de qualquer forma, sem um mísero esboço de reação. 

É como o nosso colega Espíndola cita em seu brilhante texto no boletim 630 da Apufsc: “Inovações no Direito e Crime”.

– “Somente uma ação Rescisória é capaz de derrubar uma sentença transitada em julgada”.  A decisão de tal sentença está publicada no DJ – SC do dia 20/08/1990, e inexiste até o atual momento, qualquer determinação judicial que modifique ou rescinda a mesma.

Os doutos procuradores podem falar e pensar o que quiserem, agora, a eles não cabe poder de decisão. E muito menos ao reitor Magnífico acatar aos mirabolantes e fantasiosos devaneios de um procurador qualquer. Isto cabe a justiça. Esta sim tem poder para julgar e decretar sentenças.

Porém neste país, onde vale tudo, a lei do mais forte impera em detrimento de toda uma sociedaded+ o que esperar? O que dizer? E o quê fazer? 

Bom, resta recorrer ao erudito Erasmo de Rotterdam e ao seu famoso ensaio: Elogio da Loucura: 

– “Entre os eruditos, os jurisconsultos ocupam o primeiro lugar, não havendo ninguém mais vaidoso que eles. Empenhados com assiduidade numa fadiga como a de Sísifo, acumulando inumeráveis leis sobre assuntos sem importância alguma, acrescentando glosa sobre glosa, parecer sobre parecer, e dando a entender que seu estudo é o mais difícil de todos. Para eles, de fato, tudo o que apresenta dificuldade é meritório”.

Aí está a explicação para quase tudo, nesta simples frase de Erasmod+ o mais importante é o próprio umbigo. O mundo todo gira em volta daquele membro ínfimo e fedido, eis a verdade absoluta. O resto? É resto…  

Um nobre colega do depto. de Física, dia destes, enviou um e-mail aos demais, também nobres colegas, sobre o pedido de controle de freqüência. Uma parte do seu texto me chamou a atenção.

Dizia o texto:

“Então, agora, além da AGU, do MPOG, da Reitoria, vem também uma Controladoria para CONTROLAR freqüência (talvez esteja incluído neste “pacote”, também, asseio, disciplina, higidez, bom hálito, respeitosas saudações com o braço direito bem estendido, etc.), sugiro, então, que também seja adotado como vestuário padrão um UNIFORME e, para os docentes, dadas as inúmeras tentativas de desmoralização, por quais temos passado, vestir-se como BOZO, não seria tão inadequadod+ nem tão fora da atual realidade. 

A propósito: QUEM controla a Controladoria? (O MPOG e a AGU eu sei que não tem essa tarefa, por sinal, quem sabe a gente(nós os Docentes), também requeiramos o seguinte pleitod+ que parece-me bastante justo e procedente: 

Que assim como, aqueles que tanto nos fiscalizam, por isonomia, nos seja concedido um “Auxílio Jaleco”, assim como os nobres Advogados Gerais da União, tem há mais de uma década a regalia pecuniária devida ao denominado “Auxílio Terno”, religiosamente paga, como convém, aos nossos nobres e eficientes fiscalizadores”. 

Um pouco mais abaixo o mesmo colega coloca estes versos que também aqui reproduzo:

Bertolt Brecht. (10/2/1898–14/08/1956)

Primeiro levaram os negros 

Mas não me importei com isso 

Eu não era negro 

Em seguida levaram alguns operários 

Mas não me importei com isso 

Eu também não era operário 

Depois prenderam os miseráveis 

Mas não me importei com isso 

Porque eu não sou miserável 

Depois agarraram uns desempregados 

Mas como tenho meu emprego 

Também não me importei 

Agora estão me levando 

Mas já é tarde. 

Como eu não me importei com ninguém 

Ninguém se importa comigo.

A propósito:, Judas entregou Jesus Cristo aos soldados romanos, com um beijo traiçoeiro no rostod+ por trinta moedas. E nós? Quanto teremos custado? Espero que bem menos do que as trinta moedas, afinal, não podemos sequer nos comparar ao Estadista famoso e inteligente, que foi Jesus Cristo.