Lino Peres, vice-presidente da Apufsc
“O que sempre me chamou atenção no professor Raul Guenther foi sua capacidade de negociação, acolhimento e tolerância. Ele nos ensinou a manter a serenidade e altivez na forma de pensar e atuar. Raramente se alterava, mesmo nas situações mais conflituosas. Foi um grande lutador no início dos anos 80 na defesa do caráter público que as universidades deveriam manter, contra a transformação das universidades em autarquias especiais, que o movimento docente à época assinalava que era um caminho para a privatização das IFES. Retirando-se da atuação sindical nos anos 90, quando se dedicou à atividade de pesquisa, o professor Raul retornou em 2003, como candidato a vice-reitor, mostrando-nos que nunca abandonou suas convicções e posições em defesa de uma universidade pública, gratuita e de qualidade. E que era possível conciliar a vida acadêmica com a luta pela defesa das melhores condições de ensino, pesquisa e extensão e também de uma cidadania crítica e atuante. Nestes últimos anos, não convivi pessoalmente com este inestimável professor, mas, como se não bastasse, arranjou tempo para a música e a arte em sua vida, que muitos desfrutaram. Estamos mais uma vez órfãos de uma referência antes de tudo pessoal e como raro pensador. Os sinos de nossos corações não conseguem cessar de ecoar no silêncio e vazio causados pela sua ausência no campus da UFSC.”
Daniel Martins, prof. do Depto. de Engenharia Mecânica
“O professor Raul Güenter era o nome da robótica em Santa Catarina. No Brasil também, era um dos pesquisadores mais reconhecidos. Era pesquisador 1 do CNPq, estava no auge da carreira. Pelo levantamento que nós estamos fazendo, havia cinco grandes projetos em que ele estava envolvido. (…) É uma grande perda, não só do ponto de vista de uma pessoa política, engajada, mas academicamente a perda é incalculável. Para a instituição é irreparável. O difícil da academia é tirar o melhor de cada um, desencastelar, fazer com as pessoas trabalhem com um objetivo. O Raul percebia a capacidade de cada um e direcionava as pessoas para que elas fizessem aquilo que gostassem. Direcionava os trabalhos de mestrado, de doutorado e de iniciação científica de forma a ter gente capacitada no tempo certo para atender as demandas dos projetos. Era uma pessoa que também conversava com pessoal de empresa, com pessoal de fomento. Cada um desses tem uma visão diferenciada. Tudo que ele pensava era no sentido do desenvolvimento – acadêmico, econômico, social. Ele entendia como cada parte conversa com as outras, cada expectativa e conseguia atender as expectativas e atender a um bem maior.”
Neila Maria Machado, professora do Departamento de Nutrição
Lembro de um dos meus aniversários, acho que de 48 anos, Raul estava aprendendo a tocar clarinete e o Zé Raul, seu filho, flauta. Era noite e eu estava saindo do banho e pensando em tomar um café, quando minha atenção foi desviada para os acordes de clarinete e flauta doce vindo do meu quintal. Ao abrir a porta me deparei com o Raul e o Zé postados em frente a ela ensaiando o tocar um chorinho de aniversário para mim. No sábado durante a festa de aniversário, o presente que recebi do meu amigo foi à primeira apresentação pública dele tocando clarinete.
Este é o meu amigo Raul que informa sua sensibilidade e afetividade nos gestos que carinhosamente distribui entre nós como se nada de mais eles contivessem, a não ser informar para nós, seus amigos, o quanto somos importantes para ele. E quando em algum momento trazíamos esta sensibilidade nas conversas ele informava que ela era fruto de seus filhos, de sua vida, de sua música, de seu viver. E era verdade, pois durante todos os anos de nossa amizade o festejar seus filhos, o dizer o quanto os amava e o quanto era importante para ele a presença de cada um deles em sua vida, foi marca registrada do Raul.
Lembrar hoje o Raul significa recordar cada momento que convivemos juntos, no viver cotidiano da vizinhança entre casas que se desenhava com diários acenos de mãos, com conversas rápidas no muro, com momentos partilhados em churrascos, almoços e jantares, com chimarrões ao final de tarde. Lembrar hoje do Raul significa ter claro que partilhei de uma existência primorosa de conviver raro entre duas pessoas que se consolidam em amigas, que se transformam em irmãos.
Altamir Dias, professor do Departamento de Engenharia Mecânica
Penso que o professor Raul deixa várias marcas aqui no Departamento. No ensino, ele era um excelente professor, tinha um ótimo relacionamento com os alunos. Na parte de pesquisa, trabalhava desde o doutorado no sentido de implantar um processo de pesquisa cooperativa, que era uma coisa de que ele falava muito nas conversas que a gente tinha. Hoje, o sistema de pesquisa é muito pautado na concorrência, na competição. Para ele, o resultado científico se faz para a humanidade e deveria ser mais um trabalho de cooperação entre pesquisadores, alunos, entre os diversos departamentos que fazem pesquisas. É uma visão diferenciada. Enquanto alguns líderes de pesquisa acham que o importante é a competição, o mérito pela competição, o Raul achava que o mérito deveria ser dado à cooperação, na construção de um processo em que o conhecimento aparece. Os resultados que se tem aqui, que se pode ver pelo currículo Lattes do Raul, foram conseguidos trabalhando com diferentes pessoas. Inclusive as que tinham diferenças políticas muito grandes em relação ao que o Raul pensava. Ele sempre dizia assim: “olha, o cara pode ser ruim em política, mas é bom naquilo que ele faz”. Então, a gente tem que trabalhar em cima de aproveitar o melhor, de uma forma que com esse melhor todos possam contribuir para o progresso científico. O professor Raul conseguia visualizar isso, conhecia a posição política de cada um, mas se preocupava na construção de um processo científico, no qual ganha a humanidade.