Recebi, com surpresa, a notícia da aprovação de cota racial para a UFSC, publicada no Diário Catarinense do dia 11 de julho de 2007, sob o título “UFSC aprova cotas para alunos negros e carentes”.
A minha surpresa prende-se a dois fatos, quais sejam:
a) Eu esperava debates preliminares acalorados sobre o assunto. Bem, pelo menos, debates. É um assunto de somenos importância para a vida acadêmica? Este não é o meu ponto de vista. É este o ponto de vista da Apufsc? Faltou atenção, foi omissão ou foi intenção não debater o assunto?
b) Precisamente a respeito de cotas eu tinha entregue um artigo (o meu primeiro) a ser publicado no Boletim da Apufsc. Quando o entreguei, informaram-me que haveria uma edição especial sobre o assunto. A edição especial não aconteceu e tampouco meu artigo foi publicado. Claro que um Boletim onde se discute beatificação ou canonização de um Che Guevara ou dá notícias sobre acampamentos de sem terras, tem espaços sobrando. O que ocorreu se nem ao menos meu artigo consegui recuperar? Foi extraviado?
Quanto à decisão do Conselho Universitário? Sinceramente não esperava por esta. Como estou há mais de dez anos afastado da Universidade, sinto-me fora da página e até constrangido para dar sugestões e efetuar críticas, ainda mais a uma decisão do Egrégio Conselho Universitário da UFSC, tomada com unanimidade!? Contudo, peço licença para expor minha forma de pensar a respeito, que além de um desabafo é uma denúncia.
A decisão do Conselho é lastimável, antididática, equivocada e ilegal.
É lastimável por transmitir aos concorrentes à Universidade, nos anos vindouros, valores referenciais duvidosos. A cor é mais importante que o conhecimento? O mito de uma democracia racial não é importante?
É antididática porque induz o aluno de Escola Pública a pensar que não precisa atingir os mesmos resultados para obter sucesso que o aluno de Escola Particular. Para a sociedade em geral leva a “relativizar” a importância de uma boa escola básica. Compensa a família investir em escola particular?
É equivocada porque nivela as Escolas Públicas, dando chance dupla a uma parcela significativa dos Candidatos delas oriundos. Veja-se, por exemplo, o Colégio de Aplicação da UFSC, a Escola Técnica Federal e o Instituto Estadual de Educação, para citar apenas escolas de Florianópolis. Porque os alunos destes estabelecimentos, os quais certamente têm melhores chances de se classificar, precisam de privilégios? Porque não adotaram cotas para negros, pardos e índios nestas escolas? Porque resolver um problema social com recursos ao racismo? A escola pública é freqüentada só por pobres?
É ilegal esta decisão porque fere o item V do artigo 208 da Constituição Federal que estabelece a capacidade de cada um como o fator de acesso aos níveis mais elevados de ensino.
Agora que a nossa Universidade entrou na onda das cotas, a política do mais fácil, espero que ações que efetivamente ajudariam mais na universalização do acesso à universidade, tais como melhorar o nível dos professores dos ensinos fundamental e médio (cotas e bolsas para professores?), equacionar o problema da disciplina nas salas de aula e no ambiente escolar, estabelecer padrões para o ensino, sejam efetiva e eficazmente promovidas.
Em tempo (1), na minha família sou o único não afro-descendente. Sou germano-descendente. E nós, todos, irmanados, somos contra cotas. O que somos e o que conseguimos na vida, tudo é resultado de muito esforço e não de cotas.
Em tempo (2), é bom saber que a primeira Doutora em Ciências, saída do quadro docente da UFSC, é uma afro-descendente, que fez todo o ensino fundamental e médio na escola pública, e, órfã de mãe aos 16 anos, teve que sustentar e dar escola para seus manos e manas mais jovens, fazendo, em paralelo, universidade particular. A vida não é moleza não.