No Boletim da Apufsc de 18 de junho deste ano da graça de 2007, uns articulistas andesianos nos cobram respeito à nossa (deles) historia e mandam o presidente da Apufsc “repensar o seu destino” (sic) por escrever em desacordo com a diretoria.
A exigência de respeito à nossa (deles) história é intempestiva (quer dizer, fora de tempo) e imbecil. Respeito não se pede ou exige. Respeito se conquista ou se perde, conforme a história de cada um. No caso presente, a história do Andes e da Apufsc.
A determinação ditada ao nosso presidente, de repensar o seu destino, é truculenta, arrogante, boçal, autoritária (isto é, extrapola os limites de autoridade) e golpista.
Em suma, caracteristicamente andesiana! Parece que o fim da censura ainda não chegou a esses “democratas” andesianos.
O presidente da Apufsc ocupa uma posição para a qual foi eleito pelos docentes. Está lá não por obra e graça desta triste diretoria. Nós, os que o elegemos, não lhe pedimos que abdique da sua cidadania, do direito de ter opiniões próprias e de expressá-las publicamente. Pode e deve fazê-lo! Não está entre suas obrigações o despir-se da função de pensar autonomamente e da racionalidade, delegando essas prerrogativas à diretoria. O Boletim da Apufsc, como o nome indica, é da Apufsc, isto é, de todos os sindicalizados. Não é propriedade privada desta tal de diretoria. O Boletim existe e é custeado pela totalidade dos sócios da Apufsc para servir de fórum de debates a esses mesmos associados. Inclusive ao presidente. Este tem, como todos nós, o direito ao debate.
Não pode e não deve, claro, expressar-se em nome da diretoria, sem o consentimento votado desta. Mas pode e deve fazê-lo como indivíduo e como presidente, sem pedir anuência a quem quer que seja. Aliás, no caso do presidente, entendo que tenha prioridade (mas não monopólio) sobre todos nós e sobre a diretoria.
A declaração dos articulistas de que o presidente, por expressar opinião contrária à da diretoria, deve repensar o seu rumo, tem caráter golpista e demonstra o grau de distorção mental que a esta acomete. Aliás, o uso do cachimbo, diz a sabedoria popular, deixa a boca torta. Ou, como ensinou Cícero: consuetudinis magna vis est (grande é a força do hábito).
Tem que repensar o seu destino uma pinóia! O cargo de presidente não pertence à diretoria, nem deve confiança a ela. Não é, como se diz, demissível ad nutum (com um movimento de cabeça) pela diretoria.
Ora que petulância desses andesianos! O presidente responde primordialmente perante os associados que o elegeram. E, diga-se de passagem, sua resposta à maioria esmagadora dos docentes o tem feito crescer em legitimidade, na razão inversa desta diretoria assanhadamente golpista.
Quanto à história a que dizem querer ver respeitada, entenda-se: é a história que não merece respeito e causa de querermos mudar o Estatuto e nos libertar desta Andes e de seu Conlutas.
É a história das greves abusivas, decididas por um quorum ínfimo, em uma Assembléia manipulada. É a história em que a Andes, como foi publicado em um Boletim da Apufsc no passado, elaborava o “Calendário de Greves” para o ano seguinte. Isto mesmo, essa gente elaborava um calendário de greves para o ano seguinte!
Em 1980, após a primeira greve dos docentes, greve esta espontânea, que cresceu de baixo para cima (a Andes ainda não existia), com a Apufsc (que ainda não era sindicato) não a querendo, talvez por medo (estávamos ainda na ditadura), a esquerda festiva criou o estado de oba-oba, o grevismo exacerbado, encorajada pelo fato de que o governo federal não puniu os docentes grevistas (eu encaminhei a favor da greve!). Bem ao contrário, deu-nos tudo o que pedimos. Os atuais andesianos viram aí um grande potencial político para pô-lo a serviço do PT, que estava sendo naquela época criado.
Logo em seguida, anunciou-se uma greve em apoio à UNE, votada no salão de atos da Reitoria, às 19 horas, por cerca de 25 gatos pingados. O argumento (sempre há um argumento) era de que a UNE nos havia apoiado na primeira greve e, portanto, estava na hora de retornarmos a gentileza, agora que a UNE lutava pelo reconhecimento oficial do governo federal. Ficamos algumas semanas em greve, até que a encerramos, na marra, em Assembléia no RU.
A UNE não havia ainda entrado em greve e lá estávamos nós a apoiá-la com a parada absurda!.Alguns meses depois, a UNE anunciou que não entraria em greve pelo pleito!…
Pela primeira vez fomos jogados no ridículo, publicamente, por estes fazedores de nossa triste história, para a qual agora pedem respeito. Respeito merecemos nós outros, a imensa maioria manipulada. Quem enxovalhou nossa reputação na sociedade (lá vêm esses grevistas de novo!), quem nunca respeitou os estudantes que queriam cumprir suas funções na universidade, quem nunca respeitou as angústias dos pais desses mesmos estudantes, quem sempre manipulou a imensa maioria docente e, por mecanismos formais, falou sempre em nome desta, não deve agora pedir respeito pela história que eles mesmo escreveram. Soa cínico demais!
Foi assim , como se falou acima, que começou o grevismo andesiano irresponsável. E assim começou a nossa desmoralização perante a sociedade. Greve é como antibiótico: tem que ser administrado com parcimônia, senão, quando dele se precisar, não funciona!
Ah!, sim. Falta dizer que já naquela Assembléia em que se queria iniciar nossa segunda greve, eu propus a colocação de urnas em cada Centro, para que a decisão pela greve, ou sua recusa, fosse tomada por um número expressivo de docentes. Minha proposta foi recebida com uma estridente vaia (mas ressalto, para fazer justiça, foi uma vaia absolutamente democrática! Tipicamente andesiana!). Foi então que eu pensei, como o bom inglês: what a fellow like me is doing in a place like that?
Foi a minha segunda e última Assembléia. Vade retro!
A história que os articulistas querem que respeitemos é a da Apufsc e do Andes, como braços acadêmicos do Partido dos Trabalhadores (PT). Já toquei neste ponto aí atrás.
Como o PT recentemente descambou para a direita, esta história de que nos envergonhamos descambou para a afiliação a uma associação político-guerrilheira, o tal de Conlutas.
E aqui, é natural dizer: é a história do poder empolgado por uma minoria despudoradamente manipuladora que, enquistada no mando como craca de rocha marinha, faz do sindicalismo um instrumento de ação político-ideológico, a reboque de movimentos que nada tem a ver com os interesses sindicais legítimos dos docentes das instituições federais de pesquisa e ensino.
É pois a história do arbítrio, em que um punhado de indivíduos decide soberanamente pela e contra a imensa maioria dos docentes.
É assim que, pela via do arbítrio, fomos afiliados à CUT, contra manifestação da maioria dos docentes, expressa em sondagem de opinião. É assim que fomos, sem sermos ouvidos, arbitrariamente desligados da CUT, quando esta passou a servir o governo neoliberal do PT. É assim também que fomos tomados de surpresa pela infame afiliação ao Conlutas.
Não há o que respeitar na história do Andes e da Apufsc a não ser, nesta última, a administração do nosso plano de saúde.
É ainda a história do ataque furibundo e irracional, visando não a correção de possíveis práticas irregulares de nossas Fundações de Apoio, mas a extinção pura e simples desses instrumentos fundamentais para o aporte e administração de recursos de pesquisas e desenvolvimentos. Ataque furibundo e irracional, feito à revelia de consulta à população docente e perpetrado pela nomenclatura andesiana, a quem nós, a maioria, jamais demos delegação para esta guerrilha contra as Fundações.
Não, não vejo o que se deva preservar e muito menos respeitar nesta história suja.
Quando à ameaça golpista ao nosso Presidente, cuidado!
Não tenham dúvidas, o troco virá certo e forte.