“Dá gosto ler o artigo do professor Armando Lisboa” publicado no boletim da Apufsc n° 597. É uma lufada de ar fresco espantando o cheiro de bolor e de naftalina na nossa vida sindical. Não que ele tenha sugerido coisas mirabolantes ou transformações sensíveis na organização sindical, seu maior mérito, talvez, esteja no fato de ter sido escrito pelo presidente da Apufsc, o que sugere, enfim, que os membros da diretoria da nossa seção sindical perceberam a profundidade do fosso que separa o sindicato do conjunto dos professores. Nos últimos anos essa separação só tem crescido. O ponto máximo dessa verdadeira fissura foi, sem dúvida, a greve de 2005. Ali, chegamos ao fundo do poço, uma greve que a grande maioria dos professores não queria, conduzida como um generoso “ato de vontade” por um pequeno grupo, mas sem qualquer reflexão sobre a co-relação de forças em jogo, sobre os as possibilidades de vitória, sobre os riscos da derrota. Bem ou mal, todos pagamos o preço daquela insensatez. Naquela greve ficava claro que a Apufsc estava a léguas de distância daqueles que deveria representar e, de modo geral, servia apenas como o entreposto que nos fornece, uma vez por ano, a carteirinha de acesso à Unimed, nada mais que isso.
Por isso, o texto do professor Armando Lisboa nos parece uma luz no fim do túnel. Partido daquilo que até as pedras do campus sabem, ele aponta o esvaziamento das assembléias e a crise da representação que elas expressamd+ além do desinteresse geral por esse modelo de sindicato. Como solução propõe o fortalecimento do conselho de representantes, consulta eletrônica aos associados e listas de discussão também eletrônica, quorum mínimo para instalações e deliberações – inclusive a decretação das greves, etc. Quando fosse inevitável a assembléia duraria não mais do que uma hora, ufa! Idéias simples e que andam de boca em boca há anos, mas que podem revigorar a vida do sindicato. Afinal, o sindicato é um patrimônio coletivo, é uma instituição muito importante na nossa organização, é um bem cultural dos professores, por isso é muito triste vê-lo definhando em praça pública.
Mas quem poderia discordar da necessidade de repensar o sindicato e o seu papel. Exatamente em nome da “história do sindicato” é que ele deve ser repensado. O medo da mudança é um sintoma incurável da paralisia intelectual e criativa. A crise geral do sindicalismo, que muitos de nós têm sistematicamente apontado (de que a Apufsc a o Andes são parte integrante), passa pelo reconhecimento de que o momento é outro (a ditadura acabou), vivemos hoje numa sociedade democrática – para o bem e para o mal – que exige um sindicalismo que dê conta dessa nova condição de organização coletiva. Talvez mais importante do que isso: a categoria dos professores se alterou muito nesses últimos 10 anos, e o sindicato, para continuar representativo dessa categoria precisa, em primeiro lugar, compreender essa mudança.
Mas a quem interessaria manter um sindicato tão visceralmente afastado da sua categoria? Poderia interessar a alguém não discutir as questões propostas pelo texto do professor Armando? Talvez àquela categoria de professores que tira a seiva da sua vida não das aulas nem das pesquisas, mas das assembléias, aqueles que só são felizes em assembléias de quatro horas.
Muitas e importantes questões sequer foram mencionadas, como o peso e a importância que têm os aposentados na condução da associação. Não se trata de ser contra a presença dos aposentados, em breve, se tudo der certo, estaremos todos nessa condição. Mas nunca conheci um sindicato (e estudei alguns deles) em que os aposentados tivessem um papel tão decisivo. De modo geral, eles ocupam as associações de aposentados e permanecem como um patrimônio ético e moral para a categoria. Por que com a apufsc é diferente? Não faz sentido que os aposentados votem nas assembléias e tenham tanto peso na vida da associação.
Daí a importância central da continuidade dessas discussões e o apoio à idéia de uma refundação, urgente, da Apufsc.