Estimados amigos professores,
Antes do mais gostaria de exaltar a feliz iniciativa desse boletim e o das pessoas que dedicam seu tempo na redação dos interessantes artigos nele publicados. Entre eles, gostaria de comentar o artigo publicado no número passado do boletim da Apufsc (597-11/06/2007), com o título “No son todos los que están…” do colega Rafael Camorlinga Alcaraz.
Neste artigo o autor demonstra seu descontentamento com a grande quantidade de santos canonizados nos dois últimos pontificados. E por outro lado questiona que algumas personalidades da história e pessoas que deram a vida por seus semelhantes não façam parte deste grupo de santos.
Apesar da boa vontade, sem dúvida desse nosso colega, o artigo acaba sendo bastante injusto e discriminatório com a Igreja Católica e com alguns de seus mais ilustres expoentes, entre eles João Paulo II, que qualquer católico praticante, e qualquer um que tenha sentido histórico, reconhece como uma das mais eminentes personalidades dos nossos tempos, basta recordar aquela multidão de pessoas e personalidades que lhe prestaram o último adeus e agradecimento nos seus funerais.
O autor talvez não percebeu a animosidade que transmitiu no artigo.
Hoje se faz interessante – e tem tom de brilhantismo – a crítica sem o devido respeito aos fiéis cristãos. Mas se percebe a falta, muitas vezes, de um conhecimento mais aprofundado da doutrina católica.
Na maioria das críticas e comentários, percebe-se uma confusão entre religião e ideologias políticas.
O artigo confunde por exemplo, santidade com martírio e mesmo com morte. São Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei, por exemplo, não foi mártir de sangue, assim como não o foram São Francisco de Assis, São João Apóstolo, os beatos Papa João XXIII e Madre Teresa de Calcutá. A alguns, Deus pede que derramem seu sangue, a outros, não. E nem toda morte é martírio. Se eu for assassinado num assalto, não serei mártir (a menos que entregue minha vida para salvar a de outra pessoa, por amor de Deus, um exemplo é o de São Maximiliano Kolbe, sacerdote católico, morto num campo de concentração no lugar de um pai de família).
Os assassinatos de pessoas que têm ideais, igualmente, não podem ser automaticamente considerados com mártires de fé. Che Guevara, citado no artigo, era ateu. Por isso, é uma confusão do autor a colocação no artigo de que o mesmo deveria ser considerado santo. Fidel Castro, no livro “Fidel e a Religião” (autor: Frei Betto, editora Caminho, 1986), admite que SE Che Guevara fosse católico poderia ser canonizado – SE FOSSE, mas não o era.
Quem tiver interesse em aprofundar parâmetros católicos de santidade podem tomar por exemplo, o falecido Cardeal Van Thuan (ler “Cinco Pães e Dois Peixes” – François X. N. Van Thuan, editora Santuário, 2000). Este cardeal santo também menciona o martírio (apesar do desconhecimento do autor, reconhecido pela Igreja) de Dom Oscar Romero. Numa de suas intervenções antes de rezar o Angelus na Praça de São Pedro, o Papa Bento XVI fez memória de Dom Oscar Romero, assassinado durante a Santa Missa, por defender o respeito à vida.
Estimulo os colegas e demais leitores deste nosso Boletim que não nos contentemos com uma formação de jornal diário ou de revista de circulação semanal. Busquemos leitura, boa leitura, reta leitura. Formação histórica, antropológica. Enfim, conhecermos a nós mesmos bem, se quisermos transcender e iniciar no conhecimento de Deus.
Não busquemos conhecer só do que se gosta ou do que se prefere. Mas o que se tem que fazer para crescer em virtudes, ter mais ética, não desprezar os critérios morais. Caso contrário corremos o risco de viver no mundo do “achismo”, onde a única coisa que não há é vida de comunidade, não há sociedade.
Sinto pelas pessoas que sofrem com esse tipo de influência.