Devido à repercussão do final do Projeto Universidade Aberta, o Centro Acadêmico de Jornalismo da UFSC se propõe a reparar algumas informações contidas na carta de autoria dos professores Valci Zuculoto e Eduardo Meditsch, enviada à Federação Nacional dos Jornalistas, ao Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina e aos alunos do curso de Jornalismo [Publicada no Boletim da Apufsc 595, de 28/05/07].
Muito antes da Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão de 2007, a comunidade universitária se deparou com a falta de um dos seus principais órgãos de divulgação. O fim do projeto de extensão foi, como apontaram Zuculoto e Meditsch, precedido de um esvaziamento. A carta dos dois professores visa insinuar quem são os culpados pelo desmoronamento do Unaberta, mas não contém qualquer esboço de autocrítica.
De acordo com a carta, um dos motivos que apontavam para o fim do projeto foi a exclusão do Curso de Jornalismo da comunicação do vestibular e a conseqüente perda das bolsas de extensão dos professores e funcionários. Apenas as bolsas dos alunos foram mantidas. Imagina-se que devido a essa conjuntura, os coordenadores do Unaberta teriam uma preocupação maior em supervisionar o trabalho de seus bolsistas. Mas a dedicação dos coordenadores ao site continuou a mesma de sempre: praticamente nenhuma. O trabalho de supervisionar e editar a produção discente, antes exercido pelos jornalistas funcionários, passou para as mãos dos bolsistas mais experientes do projeto que, na maior parte dos casos, nem tinham cursado a disciplina de edição.
Ainda assim, os últimos coordenadores declararam na carta que “o projeto só não morreu no início de 2006 pela resistência teimosa de sua última coordenadora, que o sustentou, apoiada apenas por um punhado de alunos, até o final do último semestre letivo, quando se afastou da UFSC para cursar doutorado.” Consideramos a afirmação como um extremo menosprezo com os alunos que faziam parte do Unaberta, mais ativamente que os próprios coordenadores. Nessa época, quando o projeto dava seus primeiros sinais de desgaste, os alunos-bolsistas mantinham a dedicação trabalhando até mais do que as 20 horas semanais estabelecidas, mesmo com a remuneração da bolsa atrasada por quase três meses.
O projeto, que inicialmente foi criado para ensinar aos alunos a prática jornalística, deveria ser guiado pelos coordenadores. Ao invés disso, o que se via nos últimos meses eram alunos com boa vontade coordenando outros alunos. Além de caracterizar uma contradição dentro de um curso de jornalismo que defende o diploma, essa situação frustrou o projeto, que passou a carregar vícios em sua cobertura, apesar da dedicação dos discentes envolvidos. A negligência com a qual nos deparávamos destoa de todo o conteúdo vanglorioso da carta dos professores.
Ao contrário do que expõem na carta os professores, nós, alunos, não estávamos assustados nem temerosos, tampouco optamos por nos calar durante o caso. Admitimos nossa ingenuidade ao acreditarmos apenas na palavra da professora Valci Zuculoto, que afirmava que não deixaria o projeto sem um novo coordenador, garantindo várias vezes que ele não acabaria.
O fato de nunca cogitarmos a possibilidade de um projeto como o Unaberta terminar nos impossibilitou de tomar uma atitude efetiva de imediato. Recebemos maiores explicações somente alguns dias depois do fim do Projeto. A aluna Fernanda Friedrich, que integrou o projeto por 10 meses (oito como bolsista), compareceu a uma reunião com o Reitor da UFSC, Lúcio Botelho, em que também estiveram presentes a Coordenadora do Curso de Jornalismo, Maria José Baldessar, e o Chefe do Departamento, Hélio Schuch. Na reunião, o reitor esclareceu que a professora Valci Zuculoto teria até janeiro de 2007 para pleitear a renovação do projeto de extensão. O prazo tinha sido estabelecido em uma reunião no mês de dezembro, e a professora estava ciente das conseqüências que o projeto sofreria no caso de uma futura negligência.
É verdade que nenhum membro do corpo docente – inclusive o professor Eduardo Meditsch – quis assumir o projeto para impedir seu fim. Mas a coordenadora Valci Zuculoto buscou por alguém que a sucedesse de maneira menos dedicada do que nos foi assegurado. Zuculoto afirmou várias vezes que estava convencendo a professora Tattiana Teixeira a assumir o projeto. Quando fomos perguntar à Teixeira se ela realmente tinha tal intenção, nos demos conta de que a proposta ainda nem tinha sido oferecida. A última coordenadora não se ocupou em buscar um substituto com a antecedência que afirmava. O CA passou a procurar um professor para se dedicar ao projeto, mas não obteve sucesso.
Quando o projeto acabou, tamanho foi o desprezo na hora de manter os bolsistas informados do, que estava acontecendo que o Unaberta não noticiou seu fim até o último dia 9, depois de meses sem atualização. Os bolsistas, quando chegaram ao local de trabalho na primeira manhã sem projeto, se depararam com a porta trancada e se deram conta de que os computadores tinham sido retirados. O Diretório Central dos Estudantes da UFSC tinha distribuído jornais que divulgavam, entre outras coisas, o site Unaberta, sem que ele estivesse funcionando. Depois, o DCE pediu esclarecimentos em relação ao fim do projeto à Direção do CCE, à Coordenadoria e à Chefia do Departamento de Jornalismo.
Os participantes do projeto chegaram a fazer uma carta de esclarecimento. Porém, as senhas dos editores para publicação foram apagadas, com exceção de uma bolsista que se desligaria do projeto no final do semestre 2006/2. Optamos por não publicar a carta antes de contatar a professora Valci, coisa que não foi possível já que ela trocou de telefone sem comunicar os bolsistas.
A carta também coloca que grupos de professores estão tão envolvidos em disputas internas a ponto de não se importarem em edificar o institucional coletivo. Acreditamos que seu compromisso com o site foi tão pequeno que os autores da carta não podem falar em “edificar o institucional coletivo”. Além disso, lembramos que eles são atores da disputa interna, particularmente visível quando observada a possessividade que tinham com o projeto.
Na última reunião do Colegiado do Departamento, em 18 de abril, a pauta sobre o restabelecimento do Unaberta foi proposta pelo CA. A professora Valci Zuculoto não estava presente e o professor Eduardo Meditsch chegou nos minutos finais da reunião porque estava cuidando de um curativo no dedo.
Concluímos que a carta enviada à Federação Nacional dos Jornalistas e ao Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina foi elaborada com o propósito de apontar seus autores como os únicos responsáveis pelos méritos do Projeto Universidade Aberta e insinuar que os demais são culpados pela sua decadência e término. Não é bem assim.