A última assembléia foi, entre as recentes, a de maior presença de professores: 47 por lá passaram. Porém, o pico de freqüência foi de 25 professores (sendo otimista). Pouquíssimos dos que estavam no início ficaram até o final. Dos três colegas da mesa coordenadora, 2 foram remanejados ao longo dos trabalhos.
A leitura e aprovação de 2 atas de assembléias anteriores levou quase meia hora. Os informes mais uma hora. O ponto principal, campanha salarial, começou a ser discutido após as 16 horas. A assembléia, prevista para iniciar as 14, encerrou-se as 18:10. A principal deliberação, de aderir a paralisação nacional prevista para o dia seguinte, 23 de maio, foi tomada por 10 colegas. A presença de aposentados sempre foi no mínimo equivalente a dos colegas da ativa em todos os momentos.
Neste último mês, três assembléias. Mais assembléias ocorrerão neste ritmo, pois estamos em “campanha salarial”, e, como sou otimista, com certeza podemos agregar um pouco mais. Porém, estamos quase esgotando nossas possibilidades de divulgação, nossos esforços de mobilização estão chegando no limite.
Perguntei na plenária: quantos são os professores pesquisadores que têm tempo para dispor de uma tarde inteira (ou mais) para participar integralmente de uma assembléia a cada 10 dias? Quantos dos que estavam presentes vieram para a assembléia em função do carro de som que circulou toda a manhã no campus? Dos poucos que lá restavam, ninguém se manifestou. Relatei que, como pesquisador, fico irritadíssimo com estes carros de som que perturbam nossa concentração, e, se não fosse o dever de ofício de presidir a assembléia, não viria participar da mesma em função daquele barulho, pelo contrário.
Ocorre que ainda estamos presos do modelo de sindicalismo dos anos 80, quando a maioria dos professores da UFSC não eram doutores nem existia o Lattes como forma de controle ou a pressão por produtivismo acadêmico como hoje. Naquela época tampouco existiam as facilidades comunicacionais atuais, especialmente a digital.
O atual modelo de sindicalismo dos professores universitários esgotou-se. Não cumpre mais seu papel de canalizar nossos problemas e de representar o conjunto da categoria. Não podemos culpabilizar a grande parte dos professores de serem alienados. Urge construir uma “nova cultura sindical”. Um dos caminhos para isto é fortalecer o Conselho de Representantes. Isto pode ser feito dando-lhe poderes mais efetivos para conduzir o sindicato, o que implica em alterar o Regimento. Aliás, o Regimento da Apufsc está completamente defasado: urge reformulá-lo, e uma comissão constituída na atual Diretoria já o está fazendo. Outro caminho é ter uma Diretoria composta por efetivos representantes de cada um dos Centros e unidades de ensino desta universidade.
Cabe também estabelecer uma prática de consultas diretas, uma maior interatividade, pois é inadmissível que um sindicato de professores universitários rejeite as possibilidades tecnológicas que permitem a e-democracia, uma democracia de base digital. Ainda em dezembro encaminhamos a contratação de uma empresa que está a produzir um novo padrão para o sistema de comunicação e trabalho da Apufsc, o qual permitirá uma maior participação, inclusive com o envio dos extratos da Unimed ou do imposto de renda via internet. Infelizmente, por motivos vários este trabalho está atrasado, mas deverá vir a luz nos próximos dias.
As Atas poderiam ser disponibilizadas eletronicamente e no próprio Sindicatod+ os Informes também poderiam ser repassados digitalmente (e até publicados no Boletim quando mais relevantes). As Assembléias, quando inevitáveis, poderiam ser focadas, objetivas naquele ponto central que motivou a convocação da mesma, com tempo delimitado de duração (uma hora?), fim do qual os microfones silenciam como nas casas legislativas. Cabe definir um quorum mínimo de instalação e de deliberação, o que também exige reforma do Regimento. Uma Lista de Discussão da Apufsc em muito ajudaria para agilizar as assembléias, pois seria uma espécie de “esquenta” antes da mesma, onde avaliações de conjuntura, questionamentos e encaminhamentos circulariam previamente, antecipando e amadurecendo posições políticas.
É o momento de se convocar um amplo Congresso de Professores para discutir, repensar e refundar a Apufsc, um congresso onde os colegas poderão apresentar suas teses e defender seus pontos de vista. Esta proposta apresentei na primeira reunião da atual Diretoria, porém até o momento não foi possível encaminhá-la.
Entretanto, é impossível mudar apenas aqui em nossa AD se não repensarmos o padrão de sindicalismo estabelecido no sindicato nacional, o Andes. Se não agirmos neste nível, haverá um desencontro organizacional de efeitos deletérios. Participei, com orgulho, da fundação do PT, da Andes e da CUT. Do PT e CUT já não sou vinculado há alguns anos. Nenhuma organização é sagrada. Infelizmente, em geral há uma degeneração ao longo do tempo que corrompe o espírito fundacional em todas as instituições, burocratizando-as.
Historicamente a existência do Andes teve grandes virtudes, evitando uma degradação ainda maior da nossa condição de docente de ensino superior. Porém, existem problemas graves que vêm se acumulando. O Andes é imenso, abrange todos os professores universitários brasileiros, e não apenas os docentes federais. Cada AD transfere ao Andes 20% do que arrecada, o qual opera através de inúmeras reuniões presenciais (ou seja: viagens aéreas à Brasília) praticamente sem utilizar das possibilidades tecnológicas de interação on-line, vídeo-conferências, presentes em todas as Ifes. A Fasubra (a qual o Sintufsc é filiado), é uma entidade bem mais leve que o piramidal Andes, pois é uma federação. Na era digital e das redes, a imprescindível, crítica, combativa e independente articulação nacional pode ter formas leves e ágeis, com menos concentração de poder e, portanto, menos disputas internas divisionistas.
Precisamos recuperar aquele espírito que deu gênese ao Andes, pois estamos esquecendo daquilo que nos uniu. Participei ativamente da primeira e grande greve nacional dos docentes universitários federais em 1980, na qual, diante do general Ludwig, Ministro de Educação, possivelmente obtivemos as maiores vitórias da nossa categoria de toda história. A não existência do Andes não foi impedimento para que avançássemos, pelo contrário: este surge como fruto da articulação grevista.
Talvez o problema mais grave seja que o Andes atua como se meramente trabalhadores fossemos, sem perceber que há particularidades na nossa condição de trabalho que nos diferenciam dos demais trabalhadores. Não somos nem melhores, nem piores: somos diferentes. Somos os mais qualificados servidores da União, trabalhamos na formação de pessoas em nível superior e na geração de ciência, tecnologia, idéias, fundamentais para a nação, e precisamos ser remunerados adequadamente. Porém nossos salários estão aviltados e colocados na vala comum, da qual precisamos nos erguer.
Grande parte do nosso problema se resolve com a adequada pressão política dentro do Congresso, pois não há justificativa que um agente da polícia rodoviária federal (sem nível universitário) tenha um salário inicial superior ao de um docente com doutorado. Porém, que tipo de pressão fazemos em Brasília? Quantas audiências públicas o Andes já realizou para debater nossos medíocres salários? A campanha salarial se torna fantasiosa se não pautarmos nela os ganhos judiciais relativos aos Planos Econômicos (84%d+ 26% …) que algumas ADs já obtiveram judicialmente de forma irrevogável. Ora, se é uma carreira única, há que requerer política e judicialmente o cumprimento do princípio da isonomia, e isto se faz com adequadas ações e articulações em Brasília.
As mudanças propostas são na forma de como fazemos sindicalismo, pois a atual é anacrônica. Talvez elas não sejam suficientes para revitalizar a essência da ação sindical, a qual reside na militância que emerge a partir da nossa condição de professores. Porém, face o grave problema duma prática sindical que perdeu sua mística, dum sindicato sem alma, não há outra opção que buscar caminhos alternativos.
Apesar de acreditar em “milagres”, esta missão de reconstruir o sindicato no sentido de torná-lo mais representativo da maioria dos filiados, respondendo especialmente às reais condições dos professores da ativa, é algo muito além das minhas crenças e forças. Trata-se duma tarefa extremamente penosa e que exigirá rupturas que não advirão se a maioria silenciosa continuar omissa.
Se isto não for possível, fará ainda sentido um sindicato de professores universitários ??? Saudações esperançosas.