A Jornada Nacional de Lutas do dia 23 de maio foi uma demonstração de força. A avaliação é das entidades que organizaram as manifestações que ocorreram por todo o país. Para as direções nacional do MST, CUT, Conlutas e Intersindical, a iniciativa obteve êxito ao unificar um número tão grande e diverso de militantes em torno de uma mesma pauta de reivindicações, como não se via desde os tempos do “Fora Collor”, no início da década de 1990.
De acordo com o balanço provisório dos movimentos, ocorreram atividades em praticamente todos os estados. Por parte do MST, por exemplo, foram contabilizados 39 bloqueios de rodovias federais e estaduais em oitos Estados (São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba). O Movimento dos Atingidos por Barragens ocupou hidrelétricas no Pará, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e bloqueou estradas em Goiás, Ceará e na Paraíba. Nos Estados já citados, como nos demais – Acre, Amazonas, Amapá, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, e Tocantins, bem como em Brasília –, o movimento sindical, estudantil e demais articulados na jornada paralisaram atividades nos serviços públicos e empresas privadas, e realizaram atos e manifestações nos centros urbanos. Na avaliação da Conlutas, as atividades reuniram cerca de 1,5 milhão de trabalhadores por todo o país.
Dirigente da Conlutas, o diretor da Federação Democrática dos Metalúrgicos de Minas Gerais, José Maria de Almeida, concordou com a avaliação de sucesso da jornada por conta da unificação de tantos e tão diversos setores, mas, ao ressaltar a necessidade de que o processo tenha uma continuidade, ponderou que o maior desafio da articulação será a superação das diferenças entre a CUT e os setores mais críticos ao governo. Rebatendo as colocações do presidente da CUT sobre a falta de foco das propostas de combate à política econômica, José Maria afirmou que, enquanto o governo continuar pagando os altos juros da dívida externa, por exemplo, nunca haverá recursos para o desenvolvimento social. “Isso é concreto. Fora isso, é apenas discurso”.
Dirigente da Intersindical, o bancário Edson Carneiro, o Índio, ressaltou que, “isolados, os movimentos não conseguem nada. O desafio é construir unidade para defender direitos. Não aceitaremos reformas que retirem direitos dos trabalhadores”. Mas ponderou também que é preciso “construir unidade com quem quer lutar, não com quem quer segurar”.
Para o dirigente nacional do MST, Gilmar Mauro, a articulação dos vários setores e movimentos conseguiu realizar uma das maiores mobilizações da história recente do país e teve o mérito de universalizar, entre os vários atores, as pautas específicas de cada movimento, num gesto de solidariedade muito importante para o sucesso das lutas sociais. “O recado ao Congresso, ao governo e ao capital foi claro: amplos setores da sociedade organizada não vão deixar barato ataques aos seus direitos”, afirmou.