Novo Plano Diretor de Florianópolis
A UFSC e a cidade de Florianópolis estão visceralmente unidas. Esta universidade, como qualquer outra, se insere, naturalmente, numa região, e sobre ela tem um impacto. Este impacto é agravado, em nosso caso, por estarmos numa ilha que possui limites de ocupação bem precisos e estreitos (mais de 50% de sua área é de preservação). É bom lembrar que aqui no campus circula diariamente cerca de 10% da população da cidade, o que demanda imenso trânsito de veículos e incide diretamente sobre as vias de circulação.
Mas, o fundamental dessa entranhável relação entre a UFSC e o tecido urbano que a acolhe, é que a universidade imprimiu uma marca na identidade local. Nossa região hoje tem inegavelmente uma “vocação” científica e tecnológica, é um pólo de produção de conhecimentos de nível superior. Isto se soma a uma economia regional que gravita em torno do setor de serviços, especialmente por conta do turismo e das atividades governamentais (capital do estado), mas também serviços de saúde, além de sermos o pólo cultural e artístico mais denso e expressivo de Santa Catarina.
Porém, a inovação científica e tecnológica exige, tal como no Silicon Valley, um entorno saudável que propicie uma qualidade de vida ímpar. Ou seja: criatividade intelectual e produtividade acadêmica não combinam com uma cidade deteriorada e com um meio ambiente poluído e degradado, pois são fatores de estresse que impedem a concentração e a inspiração. Tal como no Silicon Valley, há que fortalecer um desenvolvimento descentralizado do tecido urbano em harmonia com o meio rural, e não continuar o processo de concentração urbana de forma extremamente polarizada.
Portanto, o debate sobre o Plano Diretor (PD) de Florianópolis e dos demais municípios que compõem a região metropolitana é fundamental para a UFSC. A participação da instituição no atual processo de construção do novo Plano Diretor é de grande responsabilidade.
Ora, esse não foi o tratamento que a Reitoria da UFSC deu à questão. Apesar de procurado por um amplo grupo de professores que está mobilizado em torno disto e que constitui um Fórum dentro da UFSC a respeito da implantação do PD, o reitor Lúcio Botelho indicou intempestivamente um representante da instituição no Núcleo Gestor do Plano Diretor Participativo (PDP) sem realizar uma ampla consulta à comunidade universitária.
Com este gesto, o PDP, pelo menos na UFSC começa de forma vertical e pouco participativa, pois aqui o processo foi abortado pelo reitor. No momento, esse grupo de professores está buscando junto à administração central uma solução política e acadêmica que não atrase mais a indicação do representante da UFSC.
Ainda que a prerrogativa de indicação do representante institucional seja de fato do reitor, uma administração que adota práticas não democráticas para definir quem nos representará na construção do novo PD de Floripa acaba perdendo sua legitimidade.
A questão não é apenas da qualidade desse representante, mas do processo de sua indicação, de modo que ele não acabe representando a si próprio, mas de fato seja o porta-voz de toda a comunidade universitária, possibilitando que esse cidadão tenha força política para mobilizar intelectualmente a UFSC para propor idéias para Floripa.
É evidente que o peso da UFSC é grande nesta cidade, e que sua voz é respeitada e ouvida. Portanto, um fórum de discussão da UFSC sobre o PD ecoará fortemente dentro do próprio Conselho Gestor, e acabará lhe dando suporte técnico qualificado. E, isso só se faz se o representante da UFSC tiver legitimidade a qual advém do reconhecimento de seus pares, mas não de mera indicação pessoal feita pelo mecanismo de poder do príncipe.